Sartre, acerca da condição humana perpassa toda a sua obra, e se resume no fato de o homem ser um Deus fracassado, pois projeta-se na realização de uma síntese impossível. Desta forma, a recusa de Deus, ainda que pouco evidente, está presente em todo seu pensamento.
É importante novamente ressaltar que o homem só descobre o peso
de sua liberdade quando, de fato, elimina Deus de seus horizontes. Apesar de o
homem, psicologicamente, representar o desejo de realizar-se enquanto Deus, ou
seja, consciência e plenitude, acreditar na existência de Deus não deixa de ser
um exercício de liberdade, de escolha da própria ação do homem.
Partindo do pressuposto de que o homem contemporâneo vive mais
em função da ciência e da técnica do que propriamente da religião, Sartre
também vê no significado da crença em Deus um certo anacronismo, a
sobrevivência de uma noção já ultrapassada:
O ateísmo de Sartre lembra a filosofia de Feuerbach, o qual
afirma que não é Deus que cria o homem, mas o homem quem cria Deus (Feuerbach
(1804-1872) com a polêmica de sua filosofia, buscou em toda sua
trajetória demonstrar que a religião era simplesmente um fato humano, criação
do homem a partir da consciência que ele tinha de si mesmo. Sua obra mais
importante, A Essência do
Cristianismo, reflete seu desejo em transformar a teologia e a religião em
uma verdadeira antropologia). A fé religiosa representa assim as próprias
qualidades e aspirações do homem que, ao se sentir fracassado, aliena-se e
constrói uma divindade superior. No esforço de Feuerbach, Sartre pretende
desenvolver um pensamento puramente humano, que explique o próprio ser do homem
em sua relação concreta com a humanidade.
Sartre não quer matar Deus, pois a morte, em extensão, deixa
resquícios da presença de quem morreu na consciência das pessoas. O que Sartre
pretende com seu ateísmo é suprimir Deus simplesmente, retirar do mundo todos
os obstáculos transcendentes que impedem o exercício do homem em ser livre,
fundamentar na vida humana uma real antropologia, onde a Transcendência e a teologia
se transformariam em descoberta do humano. Suprimir Deus é situar o homem como
pura subjetividade, liberdade, responsabilidade.
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